A ÁRVORE ESQUECIDA: ENTRE O ÓDIO E A SUBSERVIÊNCIA
Insuportável. Estou cada vez mais insuportável — ao ponto de não me aturar. Neste caldo de sentimentos que permeiam meu ser — ira, lealdade, vingança, responsabilidade, prepotência, arrogância, mediocridade, sinceridade, desprezo, superioridade — noto um desvio de caráter maquiavélico. Experimentei o verbo odiar — e gostei. Cultivo agora a queda do meu inimigo, e isso me traz uma paz interior inimaginável. Temo que minhas qualidades (se ainda as tenho) estejam sendo atropeladas pelos meus defeitos. A linha que os separa está ficando cada vez mais tênue.
Sabe aquela árvore esquecida no meio da floresta? Esse sou eu. Com a raiz carcomida pelo tempo, o tronco seco, marcado pelas tempestades passadas. Sem galhos, sem folhas, totalmente estéril. Às vezes sou lembrado quando a temperatura é alta, e a velha árvore é procurada como zona de refúgio — pois ainda oferece uma aprazível sombra. Mas não tarda para sua velha companheira, a solidão, voltar a ser sua constante e inseparável companhia.
O grande problema é que as raízes, já combalidas, não aguentam mais as adversidades temporais. A velha árvore dá sinais de que está prestes a tombar — mas inexplicavelmente ainda resiste. Talvez, no fundo, queira — na sua mais pura inocência — perpetuar sua espécie. Ou apenas continuar a tarefa à qual se acostumou: a subserviência.
Penso que essa deve ser a mesma sensação que os idosos, as crianças de rua, os animais abandonados, os desprovidos do vil metal experimentam: A sensação de morte em vida. Certamente mais dolorosa — pois ainda não há terra sobre a cabeça, nem cinzas acondicionadas em alguma urna esquecida num canto de uma velha estante.
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