ANO NOVO, HIPOCRISIA VELHA


Mais um ano passou e, como sempre, a vida continua a mesma: os mesmos problemas, as mesmas contas, as mesmas ingratidões, a mesma vontade de empalar muitas pessoas — mas, pelas regras da sociedade, somos obrigados a conviver e interagir com elas. Não aguento mais tanta hipocrisia ao meu redor. As pessoas desguarnecidas do vil metal ou que não ocupam alguma posição são usadas descaradamente e, depois, descartadas quando já não têm serventia.

Sinceramente, não entendo essa histeria humana em comemorar o “Feliz Ano Novo”. Feliz o quê?

Na verdade, tudo parece uma desculpa para cair na esbórnia. Até entendo que possa ser uma forma de anestesiar-se diante dessa zorra toda em que estamos inseridos. Contudo, vamos comemorar, pois é o início de um novo ano para você, pobre mortal, continuar a ser roubado, ludibriado, aviltado, sacaneado, maltratado — e, mesmo assim, gritar a plenos pulmões que é brasileiro, com muito orgulho e muito amor.

A maturidade me azedou — no melhor ou no pior sentido da palavra. Sou hoje um ser sem compaixão. Não sei dizer se felizmente ou infelizmente. Agora, cá entre nós, que ninguém nos ouça: descobrir que é prazeroso não se preocupar com os outros é libertador. Porque, no fundo, ninguém se preocupa conosco.

Quanto às felicitações de Boas Festas, algumas eu até respondo. Mas minha visão perpassa pelo caminho inverso. A cada dia que passa, me despeço com pesar. É um dia a menos — e a morte fica cada vez mais próxima. Olhando pelo lado bom, é a contagem regressiva para se despedir desta inutilidade.

 

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