ENTRE A LETARGIA E O CAOS: UM RAIO-X DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Essas mobilizações devem ser cuidadosamente analisadas, na esperança de que representem o primeiro passo rumo ao amadurecimento da consciência social e política da população. Quebra-se, assim, a figura dos "salvadores da pátria", a mistura danosa entre política e religião, e celebra-se o movimento de saída da letargia dessa nação tão sacaneada, usurpada, abandonada, vilipendiada.
No entanto, quando se ultrapassa a barreira da civilidade e se parte para a baderna e os saques, o movimento escancara as entranhas da sociedade. Esse é o nível de civilidade — e a clientela — com que professores, enfermeiros, médicos, policiais e outras profissões que lidam diretamente com o chamado "povão" precisam lidar. Trata-se de um público formado e engrossado por programas de distribuição de benefícios, no melhor estilo "quem quer dinheiro".
Esse vandalismo é comum nas salas de aula, nas alas dos hospitais e, principalmente, nas ruas. Falo com propriedade, pois essa é a minha realidade — cada vez mais perigosa. É o meu confronto diário. A sensação de impunidade em todas as instâncias, somada à extinção da educação doméstica, forma um caldo altamente tóxico e explosivo em um país que privilegia negociatas em detrimento do tripé saúde, educação e segurança.
Meu receio é que a escola seja identificada como válvula de escape ou bode expiatório dessa situação, e que se coloque em prática a pedagogia do presídio: a escola como depósito de adolescentes que não conseguem ser "domados" pela família. Os professores atuam como carcereiros, mantendo "as crianças" nas salas (celas) até o horário do intervalo (banho de sol). Depois, recolhemos os "anjinhos" às suas salas até o toque final (indulto casa).
Sinceramente, ainda não entendi o motivo do espanto. A mobilização é sadia e extremamente necessária. Mas, infelizmente, minha memória não é curta como a minha paciência. Essa mesma parcela da população foi às ruas — claro que não na mesma proporção — comemorar quando o país foi escolhido como sede de competições mundiais.
Equalize, sintonize, harmonize — mas sempre duvide. Às vezes, os piores ardis estão embutidos nas melhores intenções. A fidalguia, a boa aparência, a verborragia, o domínio da oralidade... tudo isso pode desmanchar os melhores sistemas de antivírus, se não estiverem sempre atualizados. Então, abrolhos.
واو كارلوس
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