FASES, FASES E FIM DE LINHA


Cheguei nos 46 anos com mais duvidas do que certezas, ainda lembro-me da criança que rezava na hora de dormir torcendo para que ao despertar, seu pai que era taxista e trabalhava a noite chegasse são e salvo, esse mesmo pai que foi arrancado cedo pelas circunstâncias da vida que até hoje não entendo. 

Se meu convívio foi temporão com meu pai, foi rico em amor, companheirismo, respeito e em exemplo a ser seguido, minha querida e amada mãe assumiu o duplo papel oferecendo até além de suas possibilidades, nunca nos faltou nada, amor, estudos, alimentação, talvez a falta seja minha por não ter retribuído à altura o que me foi proporcionado. 

A vida foi passando, e La estava eu sem responsabilidade, projeto de futuro e me dando suas cacetadas, nesses meandros da vida encontrei minha amada e eterna Alessandra, meu porto seguro, minha alma gêmea, unidos na saúde e na doença, nas tempestades e nas bonanças, é que nem a morte irá separar, os infortúnios, as adversidades, o início difícil e desacreditado por muitos fortaleceram e concretizaram nossos laços. 

O tempo continuou passando e os descendentes esperados por varias variáveis, não vieram para repassar todo o carinho recebido, mas a vida me presenteou com uma filha, minha amarela, tão parecida e conectada comigo demonstrando que laços afetivos são tão ou mais fortes que os sanguíneos. 

Não tive o prazer de conviver com meu irmão pela distância geográfica, mas ele sempre morou no meu coração, essa falha estou tentando resgatar com meu sobrinho Robson, talvez tenha faltado maturidade no trato com minha irmã, no sentido de orientação, companheirismo, porém cada um traça sua própria estrada, cabe a mim, apoiar até onde meu braço alcança, perdi a minha melhor parte, aquela mas me aproximava da essência de um ser humano quando meu filho canino o bom, velho e insubstituível Pitty que me proporcionou 17 anos de amizade e amor incondicional deixando uma chaga incurável que sangra diariamente em virtude de uma fatalidade indiretamente causada por mim. 

O tempo continuou passando e fui angariando mais amigos do que inimigos, a vida me cercou de anjos da guarda (Tóia, Ica, Cosme, Gérson, Dos Anjos, Aderval, estão em ordem por tempo de convivência não por importância, irmãos que não consigo mensurar o grau de importância), outros foram ficando pelo caminho, mas não foram esquecidos cada um com sua importância. 

Os meninos foram chegando, as sobrinhas Lidya, Lavínia, a neta Brenda, o sobrinho Gian (esse um ser especial que me alegra a cada conquista), fui entendendo que passou a hora do plantio e chegou a hora da colheita. 

Decidir ficar em paz e zerar a lista dos inimigos, visto que as rusgas não eram de minha autoria, fiquei em paz, com a alma leve, a idade nos permite a leitura nas entrelinhas que nada tem tanta importância, que todos falham, afinal somos apenas humanos passíveis de erros a cada momento, seres insignificantes independentemente de classe social, econômica, raça, credo ou nível de escolaridade. 

Descobri que o avanço da idade traz mais emotividade, compaixão e um entendimento que o fim a cada movimento de rotação está mais próximo, que não devemos nos abater com os nossos problemas, nem sofrer pelos dilemas dos outros, tudo acontece na sua hora correta, só nos resta esperar, aproveitar e aceitar, a verdade é que apenas estamos vivos nesse exato momento. 

Viver outros 46 anos é praticamente impossível, pelo menos com a mesma qualidade de vida, então o lema nessa reta final é abstrair, perdoar (não esquecer) fingir demência e seguir enquanto nos for permitido.

جواو كارلوس

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