ESTELIONATÁRIOS DE GRIFE


E lá se vão 7.300 dias, 175.200 minutos e 10.512 segundos respirando o ar putrefato das catacumbas (sala dos professores), conheço todos seus meandros, atalhos, encruzilhadas, curvas e retas, utilizo a minha aguçada noção de tempo e espaço sem modéstia alguma para me apropriar de cada uma dessas vias dependendo da ocasião que permita a minha fuga, para esse que voss fala é inverossímil levantar a bandeira de Excelência Educacional, somente agora na discussão de como lidar com essa situação atípica que não é nenhuma novidade na história da humanidade, porém nossa geração teve a sorte de possibilitar um grande avanço na medicina e na melhoria dos equipamentos de saúde ou o azar de aprender pela dor a nossa insignificância perante ao desconhecido nós apresentado nesse nossa exígua estadia no planeta. 

Retornando ao meu micro purgatório, não ouso falar em qualidade educacional em uma rede pública que ocupa a penúltima colocação entre as 27 Unidades Federativas que compõe a nossa esplêndida República das Bananas, a antiga terra que tem o DNA de estelionatário por tantos nomes que já carregou de Pindorama, Ilha de Vera Cruz, Terra dos Papagaios, Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil. 

Sobrevivemos a uma greve de quatro meses, alguns soldados ficaram abandonados pelo caminho, outros endividados, alguns surtaram e muitos veranearam (eu fui um destes) e nenhum setor da sociedade estendeu a mão aos professores pedintes, chega a ser hilário o ataque de "pelanca" dos colegas docentes, conheço todos: o engraçado, o parceiro, o rigoroso, o detalhista, o assustador, o tecnológico, o contador de história e estórias, o maluco, o faltoso, sou um pouco de cada, porém me encaixo no profissional meia boca e não faço nenhuma questão de disfarçar isso, para mim é um título pomposo. 

Discute-se a saída da quarentena, será horizontal, vertical, perpendicular de quina, de cabeça para baixo, para mim isso não importa, no meu cérebro de ervilha o que eu preciso agora é preservar meu emprego e encontrar uma maneira que me permita recuperar o labor atrasado da maneira mais fácil e menos traumática possível para os meus ombros. Eu sei que raciocinar é um pouco difícil, é cansativo, precisa de conexões nos neurônios atrofiados, as melhores faculdades, universidades, os colégios mais caros estão parados e traçando estratégias para atravessar essa tormenta, nossa rede pública de excelência está letárgica, na sua zona de calmaria, os que se auto intitulam formadores de opinião não entenderam ainda que não somos indispensáveis, já se discute sobre adiar ou um cancelamento possível do ano letivo no seu começo, porém não suporta uma economia atada, as empresas serão obrigadas por lei a fornecer EPI's para seus funcionários, será que alguém em sã consciência inocentemente pensa que o poder público dotará as nossas insalubres instalações educacionais com máscaras, álcool em gel, sabão, dentre outros itens para docentes, discentes e funcionários visando garantir o mínimo de assepsia, grande parte das unidades não tem nem acesso regular de água, será que mais uma vez vamos assumir esses ônus? Nossas salas são verdadeiras saunas, abarrotadas de alunos, sem sistema de ventilação, ambiente perfeito para contaminação em massa. 

Se conscientize que não somos essenciais, pelo menos uma única vez utilizem a massa cinzenta para pensar e não apenas para repetir, se dispam da roupagem de papagaio implantada nas vossas caixas cranianas, vocês não são heróis, nem serão reconhecidos por isso, visto tranquilamente a roupa de medíocre, porém nunca de irresponsável, se fosse um familiar seu como seria o julgamento, enviaria para o "COLISEU" ou repetiria o mantra "FIQUE EM CASA”. 

E quanto ao aluno? Ele que faça como sempre, "dê seus pulos" ou continuamos aprovando como sempre vide os malfadados conselhos de classe. 

Quando começar rondar o fantasma do corte ou atraso do salário a racionalidade alcançará o seu culto ser. 

Quando colocar a cabeça no travesseiro faça a reflexão se o seu discurso realmente casa com sua prática. (EU SEI QUE NÃO, E VOCÊ SABE QUE EU SEI DISSO). 

Hoje morreu minha consciência coletiva, e nasceu o sábio adágio popular "Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro".


جواو كارلوس

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