CARA DA FOME
Assim como Daniel me apresentei ao Coliseu para enfrentar os leões, para minha surpresa as feras estavam acuadas, esquálidas, anêmicas, sarnentas, banguelas e com as garras quebradiças. Quando adentrei aquele pátio decadente abateu sobre minha alma um ar fúnebre, observando aquelas pobres almas, prostradas, trêmulas quase que implorando pela manutenção de seus subempregos, o espectro da excedência zombando e pairando sobre desbotado espaço. Senhores eu vi a cara da fome estampada nos pálidas e anoréxicas feições dos colegas, fome de viver, de condições de trabalho dignas, de reconhecimento, consideração principalmente por nossos pares. Senhores eu vi todos quietos, esperando determinações milagrosas repassadas por criaturas mitológicas surreais, incompetentes portadoras das temidas canetas do corte. Senhores, eu vi no inóspito e sulfuroso ambiente a face da ignorância, da subserviência, do mal caratismo. Não merecemos isso, o que estamos fazendo com nossas...